domingo, 1 de maio de 2011


Cidade na UTI - Por Marcelo Fortuna


As cidades caminham, muitas vezes, rumo à UTIs fictícias, padecendo de moléstias criadas por sua população, por seus governantes e, diferentemente das pessoas, elas não morrem, apenas se adaptam às doenças e, aleijadas, seguem vivendo.  É um tema complexo, que envolve conhecimento técnico aliado ao bom senso e à educação – ou seja, muito difícil de ser equacionado e solucionado.
Seguem então nas UTIs e - com licença do Arnaldo Antunes - seu pulso... ainda pulsa,

Mesmo com carros se sobrepondo aos ônibus,
Ônibus se sobrepondo aos trens e metrôs,
Trens e metrôs se sobrepondo à bicicleta,
Bicicleta se sobrepondo ao pedestre,
O  pulso... ainda pulsa.

Mesmo com praias sujas, sem estrutura,
Barracas sem higiene,
Lixo na praia, calçadões esburacados,
Propagandas invasivas, com tótens desproporcionais,
Carros nas calçadas inviabilizando a passagem de pedestres,
O  pulso... ainda pulsa.

Mesmo com lixo sendo jogado pelas janelas dos carros,
Muros altos, falta de jardim nas calçadas,
Ruas esburacadas, pontos de ônibus mal projetados, alagamentos,
Falta de educação, tratamento da cidade como uma grande lixeira,
O  pulso... ainda pulsa.

Mesmo com poda de árvores urbanas,
Falta de sombra, falta do “andar a pé”,
Surgimento de árvores deformadas e troncos secos nas calçadas,
Bairros que não sabemos onde começam nem onde terminam,
Falta de planejamento urbano para receber o excesso de carros, congestionamentos,
Falta de acessibilidade, falta de praças,
Falta de locais para as crianças brincarem, para os adultos desfrutarem,
Falta de beleza, tão fundamental – como dizia o poeta,
O pulso... ainda pulsa.

Mesmo com os interesses privados se sobrepondo aos interesses públicos,
O pulso...ainda pulsa.

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